Expansão de práticas sustentáveis sequestra carbono e pode compensar emissão de gases nas Américas

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Foto: Maurício Chreubin
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Em meio a 29ª Conferência das Partes (COP 29) que está ocorrendo em Baku no Azerbaijão, um novo estudo aponta o potencial que a América tem de compensar parte das emissões de gases de efeito estufa a partir da adoção de práticas de manejo sustentável na agropecuária que restauram a saúde do solo e sequestram carbono.

O solo é compreendido como um recurso base para promoção de serviços que são essenciais para a manutenção da vida. Além da produção de alimentos, contribui para a purificação de água, promoção da biodiversidade, neutralização de poluentes, bem como a regulação do clima. Este último, se dá principalmente pelo sequestro de carbono orgânico, processo pelo qual as plantas removem CO2 da atmosfera e fixam no solo via deposição de resíduos orgânicos. Em sistemas naturais, a ausência de interferências antrópicas reduz o dinamismo do carbono orgânico no solo. Em sistemas agrícolas, por outro lado, a frequente adoção de práticas de manejo diversas e alteração da dinâmica de adição de resíduos impacta diretamente no armazenamento de carbono. Nesse sentido, a avaliação do impacto da adoção de diferentes práticas de manejo sobre o potencial de sequestro de carbono no solo é essencial, principalmente diante da necessidade da expansão de sistemas capazes de contribuir para mitigação das mudanças climáticas.

A adoção de boas práticas de manejo como o plantio direto, recuperação de pastagens degradadas, e sistemas integrados de produção agropecuária são amplamente reconhecidas na literatura como práticas que apresentam potencial para promoção de sequestro de carbono no solo. Logo, a ampla adoção destes sistemas pode representar uma grande oportunidade para que sistemas agrícolas possam atuar contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas. Nas Américas (América do Norte, Central, Sul, região Andina e Caribe), a área ocupada por sistemas agrícolas é estimada em aproximadamente 1,11 bilhão de hectares. Todavia, embora tal área represente um grande potencial para a expansão em larga escala de boas práticas de manejo, pouco se sabe a respeito do impacto da adoção destas diferentes práticas de manejo sobre os níveis de carbono do solo nessas diferentes regiões.

Este foi o contexto que motivou os pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical (CCARBON/USP), Instituto Interamericano de Cooperação para Agricultura (IICA), e da Ohio State University (OSU) a desenvolver o estudo “Carbon farming in the living soils of Americas”, recentemente publicado na revista Frontiers in Sustainable Food Systems. De acordo com Carlos Eduardo Cerri, professor do Departamento de Ciência do Solo da Esalq e coordenador do CCARBON/USP, o objetivo do trabalho foi “entender qual a disponibilidade de informações relacionadas ao impacto da adoção de boas práticas de manejo na agricultura sobre a dinâmica de carbono do solo nas Américas, bem como estimar o potencial de sequestro de carbono perante a adoção de práticas potenciais em larga escala”. O trabalho foi baseado em uma extensa revisão da literatura disponível sobre o tema, onde mais de 13 mil trabalhos foram revisados.

De acordo com Maurício Cherubin, também professor do Departamento de Ciência do solo da Esalq e vice coordenador do CCARBON/USP, a adoção de sistema de plantio direto, recuperação de pastagens e a expansão de sistemas integrados em 30% da área agrícola (~334 milhões de hectares) das américas promoveria o sequestro de 13,1 (±7,1) Pg CO2eq por um período de 20 anos. Este montante seria responsável por mitigar aproximadamente 40% das emissões de gases do efeito estufa originados do setor agropecuário no período. Estes resultados são muito promissores, e ainda pode ser maior em função da adoção de práticas mais eficientes para a promoção de sequestro de carbono, e/ou mediante o aumento da área com adoção de boas práticas. Para o Dr. Muhammad Ibrahim, Diretor de Cooperação Técnica do IICA, este estudo pioneiro é muito relevante dar subsídios aos diferentes países e regiões do continente na definição de programas e compromissos de enfrentamento das mudanças climáticas. Apesar disso, o estudo destaca a necessidade de novos esforços de geração de dados para reduzir as incertezas das estimativas do potencial de sequestro de carbono do solo para todas as regiões, mas principalmente na América Central, Caribe e região Andina.

O trabalho ainda indicou a necessidade da padronização dos protocolos de amostragem, incluindo minimamente a camada de 0-30 cm do solo, e preferencialmente camadas mais profundas (até 100 cm). Segundo os autores, a padronização das informações coletadas é um passo importante para o refinamento das informações disponíveis, essencial para a redução das incertezas e cálculos como os apresentados no estudo publicado. Apesar das limitações encontradas, os autores destacam que os resultados obtidos representam um passo importante para direcionar a aplicação de recursos necessários para ampliar as iniciativas de monitoramento; bem como para priorizar as áreas onde a disponibilidade de informações ainda é baixa.

Além dos pesquisadores mencionados, o artigo tem como coautores o Prof. Rattan Lal da OSU, Federico Villarreal e Francisco F.C. Mello, do IICA, João Villela, e os pós graduandos Jorge Locatelli e Martha Carvalho, os três últimos vinculados a Esalq/USP e CCARBON/USP. O estudo é um produto da cooperação do Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical (CCARBON) (FAPESP # 2021/10573-4) e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) junto a iniciativa Living Soils of the Americas. Artigo completo e gratuito pode ser acessado em: https://www.frontiersin.org/journals/sustainable-food-systems/articles/1...

Com informações do CCARBON/Esalq/USP

19/11/2024