CARTA ABERTA: Invasão da Fazenda Figueira e a falência de táticas que ferem a cidadania e a dignidade

CARTA ABERTA

Piracicaba, 19 de Agosto de 2015.

Caros colegas,
 
Refiro-me neste email à invasão da Fazenda Figueira. Peço licença, e um minuto da sua atenção, para que eu possa registrar os meus sentimentos.

Ao fazer issso, estou de fato repetindo ideias e palavras que recentemente compartilhei com colegas, num âmbito mais florestal, dentro do departamento onde trabalho na ESALQ. Naquela ocasião expressava a minha reação ao tomar conhecimento da invasão que um grupo de mulheres, articuladas pelo Movimento dos Sem Terra (MST), promoveu em unidade da FuturaGene Brasil Tecnologia, pertencente ao grupo Suzano Papel e Celulose, no município de Itapetininga, em São Paulo.

Considero-me parte de um quadro de colaboradores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP que, de forma direta ou indireta, tem contribuído significativamente para o desenvolvimento tecnológico, econômico, ambiental e social do nosso país. Seguindo princípios éticos e de respeito à diversidade cultural que nos caracteriza, penso que a nossa comunidade aqui no campus da USP em Piracicaba se pauta pela defesa da mais ampla convivência com ideias, opiniões e tendências.

Entretanto, quando esse exercício da prática das liberdades de escolha e de expressão, individuais ou coletivas, fere preceitos de civilidade, de educação, e de respeito ao patrimônio e à segurança, junto-me aos demais segmentos pacíficos e ponderados da sociedade para manifestar a minha indignação.

Decorrido um certo tempo, e ouvidas as mais diferentes versões de fatos recentes, continuo considerando inaceitável qualquer tipo de invasão ou de ação intransigente. Pelos princípios da cidadania e da dignidade da pessoa humana, esses atos são ainda mais inadmissíveis quando tais invasões têm como alvo instituições de ensino e pesquisa, públicos ou privados, não importando a filiação dos perpetradores ou a delegação por eles recebida de grupos, majoritários ou minoritários, que os apoiam.

Por isso, julgo inadmissíveis os casos específicos das invasões aos viveiros florestais no Rio Grande do Sul e Itapetininga, e mais recentemente o caso da Fazenda Figueira, administrada pela FEALQ, em Londrina. Por coerência, e pela necessidade que sinto de compartilhar esta opinião, expresso o meu mais sincero sentimento de consternação aos profissionais e familiares dos funcionários da FEALQ, que materializam o desejo de um ilustre egresso desta casa, o Agrônomo Alexandre Von Pritzelwitz.

Consola-me acreditar que dessas experiências ainda sairão resultados positivos, e que vários segmentos da sociedade amadurecerão civilizadamente. Que coletivamente emitiremos opiniões sobre questões que, se às vezes são polêmicas, precisam ser compartilhadas para assim melhor educar e sermos educados. Que veremos o fim de comportamentos que nos envergonham, e que se manifestam tanto à direita como à esquerda, nas mais altas esferas do poder ou nas comunidades onde convivemos, e que em breve todos estaremos fartos de táticas que ferem a cidadania e a dignidade humana.

Com votos de que a sensatez prevaleça, e de que atos semelhantes nunca mais se repitam – para que, com redobrada motivação, continuemos promovendo o desenvolvimento equilibrado do nosso país  – ofereço a minha solidariedade e consideração aos funcionários e colegas que zelam pelo futuro da Fazenda Figueira".

 

Cordialmente,

Prof. Luiz Carlos Estraviz Rodriguez
Departamento de Ciências Florestais - ESALQ/USP